sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mais uma da nossa imprensa.

É incrível como a imprensa ainda consegue nos surpreender.

No site UOL li a reportagem intitulada "Pesquisa sobre população com diploma universitário deixa o Brasil em último lugar entre os emergentes", publicada no dia 21/04/2011, sob responsabilidade de Amanda Cieglinski (http://educacao.uol.com.br/ultnot/2011/04/21/pesquisa-sobre-populacao-com-diploma-universitario-deixa-o-brasil-em-ultimo-lugar-entre-os-emergentes.jhtm).

Pelo título, imaginei que seria uma reportagem sobre a qualidade do ensino. Então, a minha surpresa veio logo no primeiro parágrafo da reportagem: "Para concorrer em pé de igualdade com as potências mundiais, o Brasil terá que fazer um grande esforço para aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior". 

Repare em "aumentar o percentual"! Ora, quer dizer que para "concorrer em pé de igualdade com as potências mundiais", necessitamos simplesmente "aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior"?

E a qualidade do ensino? Como poderemos concorrer com potências mundiais se tivermos um ensino superior medíocre e um sistema altamente paternalista que visa premiar a todos com diploma, mesmo os que não têm mérito para tal?

O texto da jornalista cita apenas números. Lamentável. Ela tem a oportunidade de publicar em um dos maiores meios de comunicação do país e não se preocupa com a qualidade do ensino superior. Seu texto é claramente tendencioso, fato que pode ser facilmente verificado por conter apenas uma autoridade no assunto e, ainda assim, uma pequena parte do trabalho de pesquisa da professora. Mais uma vez: lamentável.

A jornalista ainda busca dar legitimidade para seu texto ao utilizar as palavras de uma professora da USP: "Na China, as vagas do ensino superior são todas particulares. Na Rússia, uma parte importante das matrículas é paga, mas esses países desenvolveram um esquema sofisticado de financiamento e apoio ao estudante. O modelo de ensino superior público e gratuito para todos, independentemente das condições da família, é um modelo que tem se mostrado inviável em muitos países".

Ao publicar apenas esse trecho, a jornalista cria no leitor a idéia que a professora é à favor do ensino superior particular. Porém, não há essa afirmação em momento nenhum da fala da professora. Por exemplo, ela poderia estar justificando os motivos pelo qual o ensino superior gratuito no Brasil é de fundamental importância. A jornalista aplica, portanto, uma forma de indução da conclusão por parte do leitor.

Se o Brasil não adotar um planejamento para melhoria da qualidade do ensino, quando o Brasil atingir 40% de matrículas no Ensino Superior, as Instituições particulares irão comemorar o lucro, o governo irá comemorar os números e a sociedade irá lamentar a quantidade de profissionais mal qualificados lançados ao mercado.

Sem uma meta de qualidade, podemos atingir 100% de matrículas no ensino superior que, ainda assim, não seremos competitivos com as potências mundiais. A publicação dessa reportagem no UOL mostra justamente o contrário: a nossa própria imprensa menospreza a nossa capacidade de leitura crítica. Terá razão?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ser educador

Ser educador não é ensinar, mas fornecer condições favoráveis para que o aprendiz possa buscar o conhecimento.

Ser educador não é uma questão de diploma, mas de conquista. O diploma permite que o sujeito que o detém seja reconhecido como profissional da Educação, mas não como professor. Ser professor está acima de qualquer convenção social, acima de qualquer colação de grau. Ser professor não é ser admitido em uma escola e entrar em uma sala de aula, mas encarar cada estudante como potencial futuro profissional qualificado para bem desempenhar suas funções perante a sociedade.

É professor aquele que não se preocupa senão com o seu salário no final do mês?
É professor aquele que "engana" o sistema, fingindo ensinar e "matando o tempo" na sala de aula (ou, pior, fora dela)?
É professor aquele que afirma detestar leitura?
É professor aquele que despreza os sonhos de seus estudantes?
É professor aquele que crê estar acima dos seus estudantes?
É professor aquele que afirma estar fazendo um "bico" na escola (muitas vezes, um "bico" esterno)?
É professor aquele que sabe qual é o seu salário desde o dia em que assinou o contrato e, depois, usa o baixo salário como argumento para o seu menosprezo pela profissão?

Não sou contra a luta pelas melhores condições de vida, pela valorização do profissional da Educação. Muito pelo contrário, sou favorável às lutas pela valorização de qualquer categoria. Mas, daí a não cumprir meu papel junto à sociedade há uma distância muito grande.

"Educadores do Brasil, uni-vos".

Queremos uma sociedade mais justa, mais cidadã, mais qualificada, mas, ao mesmo tempo, desprezamos nosso próprio trabalho.

Como disse Huberto Rohden: "A maior caridade é plantar e não colher para que os outros possam colher o que não plantaram". Para aquele que só vê o negativo nas mensagens, pode pensar que estou dizendo para trabalharmos pelos preguiçosos. NÃO! A mensagem é para trabalharmos por aqueles que não tiveram oportunidade de trabalhar.

O Educador não precisa amar o que faz, mas deve fazê-lo com profissionalismo.

Essa é a mensagem: "tudo vale à pena quando a alma não é pequena" (Fernando Pessoa).