No site UOL li a reportagem intitulada "Pesquisa sobre população com diploma universitário deixa o Brasil em último lugar entre os emergentes", publicada no dia 21/04/2011, sob responsabilidade de Amanda Cieglinski (http://educacao.uol.com.br/ultnot/2011/04/21/pesquisa-sobre-populacao-com-diploma-universitario-deixa-o-brasil-em-ultimo-lugar-entre-os-emergentes.jhtm).
Pelo título, imaginei que seria uma reportagem sobre a qualidade do ensino. Então, a minha surpresa veio logo no primeiro parágrafo da reportagem: "Para concorrer em pé de igualdade com as potências mundiais, o Brasil terá que fazer um grande esforço para aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior".
Repare em "aumentar o percentual"! Ora, quer dizer que para "concorrer em pé de igualdade com as potências mundiais", necessitamos simplesmente "aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior"?
E a qualidade do ensino? Como poderemos concorrer com potências mundiais se tivermos um ensino superior medíocre e um sistema altamente paternalista que visa premiar a todos com diploma, mesmo os que não têm mérito para tal?
O texto da jornalista cita apenas números. Lamentável. Ela tem a oportunidade de publicar em um dos maiores meios de comunicação do país e não se preocupa com a qualidade do ensino superior. Seu texto é claramente tendencioso, fato que pode ser facilmente verificado por conter apenas uma autoridade no assunto e, ainda assim, uma pequena parte do trabalho de pesquisa da professora. Mais uma vez: lamentável.
A jornalista ainda busca dar legitimidade para seu texto ao utilizar as palavras de uma professora da USP: "Na China, as vagas do ensino superior são todas particulares. Na Rússia, uma parte importante das matrículas é paga, mas esses países desenvolveram um esquema sofisticado de financiamento e apoio ao estudante. O modelo de ensino superior público e gratuito para todos, independentemente das condições da família, é um modelo que tem se mostrado inviável em muitos países".
Ao publicar apenas esse trecho, a jornalista cria no leitor a idéia que a professora é à favor do ensino superior particular. Porém, não há essa afirmação em momento nenhum da fala da professora. Por exemplo, ela poderia estar justificando os motivos pelo qual o ensino superior gratuito no Brasil é de fundamental importância. A jornalista aplica, portanto, uma forma de indução da conclusão por parte do leitor.
Se o Brasil não adotar um planejamento para melhoria da qualidade do ensino, quando o Brasil atingir 40% de matrículas no Ensino Superior, as Instituições particulares irão comemorar o lucro, o governo irá comemorar os números e a sociedade irá lamentar a quantidade de profissionais mal qualificados lançados ao mercado.
Sem uma meta de qualidade, podemos atingir 100% de matrículas no ensino superior que, ainda assim, não seremos competitivos com as potências mundiais. A publicação dessa reportagem no UOL mostra justamente o contrário: a nossa própria imprensa menospreza a nossa capacidade de leitura crítica. Terá razão?