domingo, 6 de fevereiro de 2011

E la nave vá

Não farei um comentário sobre o filme de Fellini. Certamente, seria mais prazeroso. Porém, assuntos mais sérios devem vir à tona.

Voltaire disse uma vez: "a pena é mais forte que a espada".

O único efeito que essa frase provoca, no Brasil, é de desprezo. Isso se não virar motivo de piada.

Já as frases populares "Deus é brasileiro" e "O Brasil é o país do futuro" provocam um efeito muito maior.

Há uma clara contradição. Enquanto Voltaire anuncia o poder da cultura e do conhecimento, as frases populares citadas produzem o comodismo. Ora, se Deus é brasileiro, eu não preciso me preocupar com nada. Se o futuro do Brasil já está garantido, então eu posso ficar tranquilo.

Nos anos de 1960, tínhamos orgulho da Educação pública. Estudar em uma escola pública era motivo de honra. Porém, poucos "escolhidos" tinham acesso à Educação.

Nos anos de 1970 e 1980, estudantes que não levavam à sério as oportunidades proporcionadas pela escola pública eram encaminhados para a escola particular, a qual era indigna dos melhores alunos.

Hoje, os pais não medem esforços para pagar as escolas particulares para os seus filhos. Isso se deve ao descaso com o Ensino Público.

O que ocorreu? O Ensino melhorou na Escola Particular, piorou na Escola Pública, ou ambos?

Mas, vamos aos fatos. Todos dizemos que o governo é o verdadeiro culpado pelo estado atual da Educação no Brasil. O governo tem responsabilidade, sim. Porém, a população também tem a sua responsabilidade. Vejamos:


  • Ao deixar os filhos na escola, muitos pais param o carro em fila dupla. Depois, cobram atitude do governo quanto ao trânsito. Que tipo de educação está transmitindo aos seus filhos?
  • No supermercado, é muito comum uma pessoa ficar na fila do caixa enquanto outra faz as compras. Naturalmente, o que fez as compras chega com o carrinho e se acha no direito de assumir a posição da que guardou lugar, como se o lugar fosse cativo. O que esses pessoas ensinam aos seus filhos?
  • No trânsito, simplesmente há o desprezo dos semáforos e das placas, sem dizer que poucos utilizam as setas e os motoqueiros fazem manobras dignas de Xtreme Games. O que as crianças aprendem?
Isso só para citar poucos fatos.

A mudança na Educação não está somente relacionada ao governo, mas às nossas pequenas atitudes no dia-a-dia.

Como ouvi outro dia: "Queremos deixar um mundo melhor para as nossas crianças, mas não pensamos em deixar crianças melhores para o mundo".

"A pena é mais poderosa do que a espada", mas não basta saber como funciona a pena. É necessário saber o que fazer com a pena.

Enquanto estivermos preocupados com o governo e nos esquecermos de mudar nossas atitudes, o Brasil continuará o mesmo. Ou seja, "e la nave vá".

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Educação de qualidade?

É com pesar que inicio esse blog. Explico: o estado atual da Educação é crítico. Como profissional da educação, fico muito preocupado com as tendências. Não há mais qualquer incentivo ao aprimoramento da cultura do saber. Os questionamentos foram substituídos pelo comodismo das respostas prontas. Estudantes universitários se orgulham por jamais terem lido um livro sequer. Há uma crença de que os telejornais sempre transmitem a notícia tal qual o fato ocorreu, sem distorções. Poucos são os que sabem quem foram Julio Verne, Isaac Asimov, Alexandre Dumas, entre outros. Muitos criticam Machado de Assis, mas jamais abriram uma de suas obras. Adotam escritores mais preocupados com o lucro do que com a cultura. Muitos compram livros por estarem entre os primeiros dentre os mais lidos, conforme publicado em revistas de interesses duvidosos. Jamais leram Clarice Lispector, Mário Quintana, João Ubaldo Ribeiro, Drummond, e se orgulham disso.

Internet é a sensação e deve ser, mesmo, pois pode ser uma ferramenta excelente. Só não pode ocorrer a troca de valores.

Bom! Vamos para a Educação. Métodos educacionais "modernos" e "miraculosos", verdadeiros modismos, sem qualquer compromisso com o saber, proliferam como vírus mortais. Tais métodos são impostos às escolas como se fossem resolver todos os problemas.

Enfim, não há mais um ensino-aprendizagem que realmente pode levar um cidadão ao conhecimento necessário para que ele desenvolva seu trabalho na área escolhida. Faculdades "lançam" ao mercado de trabalho profissionais sem qualquer condições de exercer sua profissão. Não são poucos os profissionais que buscaram uma faculdade e colaram grau sem tal condição profissional. Foram enganados, para não dizer roubados! Tiraram a chance de um cidadão buscar melhores condições profissionais e pessoais. Isso para não dizer no dinheiro investido para a sua formação específica, que deveria retornar para a sociedade na forma de profissionais qualificados. No entanto, a busca pelo lucro e pelos números escondem uma realidade cruel. Profissionais mal formados são escondidos nas tabelas que apresentam um crescente número de brasileiros com nível superior. Serão esses os "modernos analfabetos funcionais". Cidadãos com diploma de nível superior, mas com qualificação técnica baixa.

Um bom começo para melhorar a Educação talvez seja uma ampla discussão do verdadeiro papel do professor. Paralelo às discussões sobre as questões salariais (importantes, claro), pode haver discussões sobre como aproveitar melhor a relação aluno-professor-escola ou universidade. Será que temos consciência do verdadeiro papel de cada um no processo educativo? Será que o aluno sabe qual o seu papel? O professor tem consciência de sua abrangência, principalmente nos entornos da escola, e no incentivo que pode oferecer ao estudante? O professor universitário aplica, de fato, suas atribuições e suas competências em atividades junto à sociedade? Quais atividades os gestores podem propor para aprimorar a Educação?

O tempo está passando e há apenas reclamações, sem qualquer tomada de atitude. Quanto mais o tempo passa, mais difícil se tornará reverter a situação calamitosa em que se encontra a Educação no nosso país.